A origem dos bolos se confunde com a dos pães. No começo, havia uma certa
confusão e passas adocicadas assadas eram indistintamente chamadas de pães ou
bolos. Os egípcios já confeccionavam bolos de mel, bem como os gregos da Ilha
de Rodes.
Existe um painel datado por
volta de 1175 aC, ilustrando a confeitaria da corte do faraó Ramsés III, com o
registro de vários tipos de pães e bolos. E alguns historiadores acreditam que
em 700 aC, pães e biscoitos adocicados eram vendidos pelo Egito.
Os romanos conheciam a
técnica da fermentação, e por este motivo, desenvolveram várias receitas de
bolos, inclusive com a adição de frutas secas e até mesmo queijo, o que seria
uma versão rudimentar do Cheesecake.
Embora os bolos sempre
tenham estado associados a festas e comemorações, com o tempo, tornaram-se um
alimento mais comum, presente quase que diariamente à mesa.
Por outro lado, os bolos de
casamento ilustram perfeitamente a evolução da técnica e arte da confeitaria.
A tradição de servir bolos
em casamentos remonta à Roma antiga. Era costume, nas famílias mais abastadas,
preparar uma massa com ingredientes especiais, tradicionalmente usados como oferenda
aos deuses, como frutas secas, nozes e mel. Este doce não era para ser
consumido, mas os convidados o amassavam por cima da cabeça da noiva, tal como
se faz hoje com arroz na saída da igreja. Desejava-se que os deuses trouxessem
prosperidade, sorte e fertilidade.
Julio César levou este
costume para a Bretanha, em 54 aC, e passou a fazer parte dos hábitos das
populações locais. Na Inglaterra, os bolos decorados apareceram pela primeira
vez na corte de Elizabeth I. Basicamente se usava pasta de amêndoas (marzipã)
moldada em vários formatos. Os ingredientes ficavam cada vez mais sofisticados
e exóticos, já que o Império britânico fornecia produtos de todo o mundo.
Era comum fazer pequenos
bolinhos doces, cobertos de marzipã e decorados. Alguns eram amassados e
jogados na noiva, outros consumidos pelos convidados. Os que sobravam eram
arrumados em uma pilha, e os noivos deveria se beijar sobre o monte de
bolinhos, com o objetivo de serem abençoados com muitos filhos. Não demorou
muito para que esta pilha de bolinhos fosse substituída por um grande bolo.
Dentre as primeiras receitas
que se tem registro, a que mais se aproxima dos bolos de hoje é uma receita
italiana, de bolo de amêndoas, servida em Nápoles, em 1478.
Acredita-se também que tenha
sido a Itália a precursora na arte de bolos decorados. Quando Catarina de
Médici se casou com o rei na França, Henrique II, levou como dote seus
confeiteiros, e seu bolo de casamento foi o primeiro a ser confeccionado em
andares. A técnica foi difundida pela França e em 1660, quando o rei Charles II
retornou de seu exílio, para reclamar o trono inglês, levou consigo um séqüito
de habilidosos confeiteiros franceses.A partir deste momento, quando os bolos
ricamente decorados passaram a ser um hábito e também um símbolo de status e
poder econômico, começou uma verdadeira corrida para saber qual corte produzia
o bolo mais espetacular.
O escultor Giovanni Lorenzo
Bernini teria usado açúcar para algumas obras especialmente encomendadas.
Há um curioso registro sobre
a festa de casamento do Duque Guilermo da Baviera e a senhorita Renata de
Lorena, em Munique: O bolo tinha três metros de altura, e durante a festa, o
Arqueduque Ferdinando da Áustria teria saído de dentro do bolo, para homenagear
os noivos com uma canção (citado em WEIGL, Christoph. “História das Artes
Manuais”, Reisensburg, 1698).
Durante o reinado da rainha
Vitória, na Inglaterra, também se faziam bolos enormes, chegando a pesar mais
de 100 quilos.
Nesta época os bolos faziam
parte da vida de nobres basicamente porque os ingredientes eram escassos, e
muito caros. Além disso, ainda não tinham a qualidade de hoje, e uma simples
receita de bolo exigia o trabalho de vários empregados: O açúcar tinha a forma
de um grande torrão, que devia ser cortado, sovado e peneirado. A manteiga, em
geral rançosa, devia ser lavada com água de rosas. As frutas secas, picadas,
sem falar nos ovos, usados em quantidades enormes e batidos à mão. O fermento,
levedura de cerveja, devia ser cultivado, e reativado, tudo de forma natural.
Pronta a massa, restava o
trabalho de controlar fornos à lenha, muito diferentes dos atuais.
Por todo este período, as
receitas se desenvolveram de forma esparsa, dentro das cortes, conventos e
cozinhas reais. A primeira receita de pasta americana (ou “sugar paste”) que se
tem noticia está em uma obra chamada “Delights for Ladies”, de 1609. Leva
açúcar, amido e goma tragacanth .Em 1769, Mrs. Raffald publicou um livro, “The
Experienced English Housekeeper”, contendo uma receita de bolo, outra de
marzipã, e de glacê real.
No século XIX, a grande estrela da confeitaria no mundo foi Antoine Carême.
Cozinheiro preferido de todos os reis da Europa, ornamentava seus banquetes com
monumentais peças de açúcar. Utilizando-se de uma espécie de pastilhagem, e
inspirado na Arquitetura, construía sobremesas e bolos estruturados. Registrou
suas obras, com desenhos de próprio punho, nas obras “Le Pâtissier royal
parisien”. Paris, 1815, e “Le Pâtissier pittoresque”, Paris, 1842.
Por toda a Europa surgiam
receitas exclusivas de bolos, famosas até hoje, como a Torta Vienense e o Bolo
Sacher.
Em 1894, Ernest Schulbe
mostrou seus trabalhos na Exposição de Londres. Seu livro “Advanced Piping and
Modelling” deixou o registro de receitas e também dos utensílios usados à
época. Muitas peças eram feitas de osso, existiam pinças marcadoras tal como as
de hoje, e também eram feitas flores de açúcar. Basicamente, usava-se uma
mistura de marzipã e massa elástica (“gum paste”). Na Inglaterra cada vez mais
desenvolveu-se a técnica de usar o Glacê real para revestir o bolo. Dizem que
vem daí o costume de os noivos cortarem juntos a primeira fatia de bolo: O
noivo precisava “ajudar” a noiva a rachar a cobertura rígida de açúcar.
No começo do século vinte,
os bolos decorados, agora mais acessíveis, começaram a fazer parte dos hábitos
da sociedade como um todo. Surgiu a tradição, na Inglaterra e Estados Unidos,
dos bolos de casamento de três andares, representando as três alianças:
noivado, casamento e a eternidade.
Hoje a técnica está
difundida praticamente no mundo todo, adaptando-se aos gostos e a cultura de
cada país, surgindo inúmeras e maravilhosas possibilidades.